Quem conduz a realização do corpo por abraçar a Unidade, Pode tornar-se indivisível

TAO TE CHING

O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE

LAO TSE, o Mestre do Tao



Tradução e Interpretação do Capítulo 10
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG

Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em 09 e 16 de agosto de 1994


Capítulo 10


Quem conduz a realização do corpo por abraçar a Unidade,
Pode tornar-se indivisível;
Quem respira com pureza por alcançar a suavidade,
Pode tornar-se criança;
Quem purifica através do conhecimento do Mistério,
Pode tornar-se imaculado.

Ame o povo e governe o reino através do “não-conhecimento”;
Ilumine e clareia os quatro cantos através da “não-ação”;
Abra e feche a porta do Céu através da “ação feminina”.

O que gera e cria,
Gera mas sem se apossar
Age sem querer para si
Cultiva mas sem dominar
Chama-se Misteriosa Virtude.


Nota da Transcritora:  Este Capítulo foi interpretado em duas aulas.


Aula de 09 de agosto:


Para se entender este Capítulo, é preciso desmembrá-lo:

“Quem conduz a realização” - trabalhar, conduzir uma empresa, realizar uma situação de empreendimento - dirigir, quem dirige um processo.

“a realização” - significa processo, processo de realização.

“realização do corpo” -  a pessoa que dirige realiza seu corpo.


Pode também ser entendido num nível bem superficial: numa ginástica aeróbica com domínio perfeito dos gestos e dos movimentos, o que se faz é uma condução da realização do corpo.  Apenas que no texto não se fala de ginástica quando se fala da realização do corpo.  Fala-se de uma realização através de um processo que abraça a Unidade.

Como abraçar a Unidade?  O que é a Unidade? 

Unidade é o Um, é uma coisa só.  A pessoa que abraça a tudo, como o Um, não cria a divisão, o choque, a discordância entre as diferentes forças.  Essa pessoa que abraça a unidade é alguém para quem as diferenças não se posicionam como contradições.


Nosso grupo é uma unidade.  Em nosso  grupo de pessoas, cada um tem sua personalidade própria, cada um com uma experiência pessoal diferente, mas todos estão aqui com um objetivo: estudar o Taoísmo.

Para se alcançar um objetivo, os diferentes se unem sem que se tornem iguais: cada um tem sua própria vida, seu próprio destino mas são unidos por algum princípio. 

A Unidade é a realidade que permite aos diferentes se juntarem formando um grupo que contenha em si uma unidade dentro da multiplicidade.  São diferentes que se aceitam formando uma unidade, sem perderem a individualidade.

Uma das diferenças fundamentais entre a cultura oriental e a cultura ocidental, é que a primeira dá mais importância ao grupo enquanto a cultura ocidental, pelo menos a moderna, dá mais importância aos direitos individuais.

Quando se trata de diferença de comportamento, os orientais dão maior importância ao grupo, aos direitos coletivos.  Também dentro desses interesses pelos direitos do grupo existe uma diferença entre a tradição Confucionista e a tradição  Taoísta - embora ambas   falem da importância do interesse coletivo.

No Confucionismo, muitas vezes em função do interesse coletivo, o interesse individual deve ser sacrificado.  Com o interesse coletivo, os direitos individuais são menos importantes.  Automaticamente, por associação, apresentam uma característica mais homogênea na natureza do conceito da união e da comunidade.  O Confucionismo foi longamente aprovado por mais de dois mil e quinhentos anos pelos governantes chineses porque, dessa maneira, tudo gira em torno de um governante que é, conseqüentemente, a cabeça do país.  Portanto, os interesses pessoais são reduzidos enquanto são aumentados os interesses do Estado.

Alguns antropólogos acreditam que os regimes comunistas que mais duraram no mundo foram os orientais.  A Rússia desmoronou e a China ainda continua porque lá existe a semente do interesse coletivo acima do interesse individual e isso foi facilitador para a implantação do regime comunista.  Eu não estou falando da ideologia do comunismo.  O país inteiro assumiu usar a mesma roupa: hoje isso já foi quebrado mas o comunismo permanece por mais tempo na China devido ao Confucionismo que vem trabalhando há mais de dois mil e quinhentos anos em cima do sacrifício do individual para manter o interesse do coletivo ou o interesse do Estado.

Por causa da manipulação dos governos e dos políticos, o interesse coletivo passou a ser o interesse do Estado, e não necessariamente corresponde aos interesses do povo.

Na China, a revolução cultural dirigiu toda a sua pontaria para o próprio  Confucionismo.  Na verdade, essa pontaria não era contrária a esse conceito da unidade comunista mas sim para tirar o domínio das forças do Confucionismo sobre as pessoas para que os partidos do   governo pudessem dominar as pessoas usando o mesmo método do Confucionismo.  Portanto, a própria estrutura Confucionista é aplicada pelo comunismo derrotando o Confucionismo.

Essa é a grande divergência em termos de Unidade entre o Confucionismo e o Taoísmo.

O Taoísmo acredita que a Unidade seja exatamente o consenso que aceita as diferenças que existem entre as pessoas.  A verdadeira Unidade não é o domínio do pensamento alheio - segundo o pensamento do Confucionismo.  O Taoísmo fala que a  verdadeira Unidade faz com que um grande número de pessoas, através de uma conscientização, de um consenso, descubra que a natureza temporária de cada um é sempre diferente.  Portanto, as pessoas aceitam as diferenças que existem entre si e buscam a realização em conjunto como algo em que todos acreditam: isso é o que faz a verdadeira Unidade.

Nós, aqui, somos um grupo de pessoas que busca aceita a realidade alheia mas ao mesmo tempo busca algo acima desses fragmentos, dessas cosias mais elementares, nos direcionando para uma meta mais Superior que é a busca espiritual, a busca filosófica.  Assim, se consegue uma união sem amarrar as pessoas.



Este texto fala de toda a realização da Prática Taoísta -   basicamente fala sobre a Alquimia - apenas que todos os empreendimentos estão por detrás.  Vamos então continuar buscando esclarecer...

Quem conduz a realização do corpo por abraçar a Unidade

A pessoa se realiza abraçando a Unidade, trazendo para si a Consciência da Unidade.  Como ela realiza isso?  É preciso fundir, unir as cinco forças que existem no universo.

No Taoísmo, simbolicamente, se considera que existam cinco forças dentro do universo, ou cinco elementos: fogo, água, madeira, meta e terra.  Estes elementos representam simbolicamente os cinco tipos de energia, cinco tipos de Consciência, cinco partes do ser.

O elemento Fogo corresponde ao espírito da pessoa.

O elemento Água corresponde às essências vitais da pessoa, fluidos, hormônios, os componentes do sangue, todas as matérias orgânicas e vitais que existem dentro de nós.

A Madeira corresponde à alma.  A alma é a Consciência com personalidade; o espírito é a Consciência sem personalidade.

O Metal corresponde ao corpo.

A Terra corresponde à vontade.


Na prática da Alquimia Taoísta, para uma pessoa alcançar a Unidade do ser, tem que unir o corpo à alma; tem que juntar o espírito à essência e colocar esses dois eixos verticais e horizontais dentro de um único elemento, que é o elemento terra, elemento do centro, da vontade.

A vontade, portanto, é a capacidade de juntar o corpo à alma, o espírito ao físico, fazendo a pessoa abraçar a Unidade.



Os cinco elementos também podem ser interpretados dentro de uma outra visão:

Pode-se entender o Fogo como Consciência, a Água como o Sopro.  Em nossa prática de meditação, nós juntamos a Consciência com o Sopro.  Sopro é energia vital.  Na medicina chinesa, os cinco elementos atuam como estimuladores e controladores.

A Madeira tem o poder de criar Fogo; o Metal tem o poder de criar Água.

Em outro simbolismo, se o Fogo é a Consciência, a Madeira é uma condição prévia que permite a criação da Consciência, que chamamos a Consciência do Céu Anterior.

O Metal tem a capacidade de criar Água, ou seja, ao se derreter o metal, ele se torna líquido.  A Água representa o Sopro, o Metal é a condição prévia que é capaz de ser transformada em emergia, essa energia é chamada de Sopro do Céu Anterior.

O que é a Consciência do Céu Posterior?  Céu Posterior significa as coisas manifestadas.  Uma árvore natural na floresta tem uma madeira do Céu Anterior, genuína, nunca foi polida, sempre foi assim.  Uma cadeira é uma madeira já em estado de Céu Posterior porque foi modificada, polida.

Desse modo, a energia vital que existe no universo tem duas qualidades: uma energia que já tenha sido moldada pelo pensamento, pelo costume, pela genética e uma outra que nunca foi tocada, é genuína, não possui forma.  A energia, o Sopro do Céu Posterior, tem forma, o Sopro do Céu Anterior não tem forma.

A Consciência do Céu Posterior é uma Consciência que tem forma.  O pensamento é uma forma concreta ou uma forma abstrata; o sentimento tem uma forma concreta ou uma forma abstrata.

A Consciência pura é apenas uma Consciência, pertencendo ao Céu Anterior.  A Consciência do Céu Posterior tem um julgamento, uma intenção, um valor: assim, não é uma Consciência pura.


Quando nos sentamos para meditar, devemos colocar nossa Consciência dentro do Sopro.  O primeiro passo é colocar o Fogo dentro da Água.  Como fazê-lo?  Colocando nossa atenção dentro do ar que respiramos.

Enquanto o ar entra e sai, existe um volume mesmo que impegável e invisível mas que pode ser percebido - assim como soprar um balão de plástico dentro de um balde de água, fazendo o balão crescer.  O ar tem volume.  O ar é Sopro, sempre tem volume.  Consciência não tem volume.  Colocar a Consciência dentro do Sopro é exatamente mergulhar o Fogo dentro da Água.  Esse é o primeiro passo.

Se conseguirmos fazer essa união, não mais teremos Água em oposição ao Fogo.  Teremos apenas os dois juntos, no centro.  Uma Consciência dentro do Sopro.  Na linguagem simbólica, esse eixo que liga o ser ao Sopro chama-se ‘eixo norte-sul’; norte embaixo e sul em cima.

No Planeta Terra, o eixo norte-sul significa toda a massa de Terra girando em torno de si mesma: pode-se dizer, então, que realmente existem norte e sul.  Porém, leste e oeste não existem: se a Terra é redonda, qualquer ponto de uma direção para frente é leste e qualquer ponto de uma direção para trás, é oeste - em relação ao ponto anterior.

É preciso se usar um pouco de imaginação: a partir do momento em que se adquire essa Consciência, percebe-se que essas duas linhas giram em torno de um mesmo eixo. Metal vai para o lugar da Madeira e Madeira ocupa o lugar do Metal e, na verdade, um se junta ao outro.  Quando a força converge em direção de si mesma, a Consciência converge para o centro e o Sopro converge para o centro.  Nesse movimento, o eixo ao mesmo tempo que  se compensa, fica mais próximo, mais próximo, mais próximo... até chegar a um ponto.  A partir daí, tudo se encolhe ao ponto.

Na prática, isto significa que, na meditação, conseguimos colocar a Consciência dentro do Sopro chegando ao ponto quando a Consciência e o Sopro não podem mais ser divididos, separados. 

Aparecerá, então, uma segunda energia, uma segunda Consciência girando em torno de nós, entrando em nós, até se fundir conosco.  Isso é o que chamamos de “Recolhimento da Matéria Prima” ou Prima-Matéria.

A matéria-prima é a matéria a ser utilizada na realização de qualquer coisa. 

Se quisermos transformar nossa Consciência e nossa vida, precisamos juntar, primeiramente, a nossa Consciência, nosso espírito, ao Sopro em um ponto e ao mesmo tempo, através dessa concentração, criar um centro de gravidade em nós mesmos.  Esse centro de gravidade vai fazendo com que a energia da Consciência cósmica que vem de fóra, nos penetre.  Essa entrada chama-se Recolhimento da Matéria Prima.

Essa energia que vem de fóra - a Consciência pura - é  muito maior que nós, muito mais poderosa.  É uma energia transformadora: nossa cabeça muda, nossos sentimentos mudam, nossa Consciência muda - nos tornamos outra pessoa.  Aparentemente, continuamos os mesmos, mas nos tornamos uma outra pessoa porque pensamos, sentimos com uma compreensão interior totalmente modificada.


A sociedade, como um todo, doutrina que as experiências de transformação são perigosas e inaceitáveis..., que o homem não deve dar sequem um passo na direção da transformação.  Do ponto de vista da Alquimia, o importante é a transformação.  A grande busca é a transformação.  Ao conseguirmos realizar tal tarefa, passaremos a ser pessoas mais lúcidas, mais verdadeiras.  Os pensamentos e os conceitos não mais nos atrapalharão e nossa Consciência será uma Consciência de pura luz, clara, simples.  A vida torna-se simples.



Num processo de transformação, a Consciência une-se ao Sopro - a Consciência do Céu Anterior uni-se ao Sopro do Céu Anterior - nesse momento, a Consciência se torna translúcida.

O Sopro do Céu Anterior é uma energia genuína, uma energia que ainda não incorporou os costumes, os hábitos; uma energia que não sofreu as interferências da emoção e do pensamento.  É uma energia muito poderosa, que vem de fóra de nós, e ao nos penetrar, acaba nos purificando, purificando nossa energia interior, afastando as doenças.  Quanto mais pura a energia, mais ativa e energética ela é.  Quanto mais tensa, mais envelhecida e sem qualidade.  Quando mais nova a energia, mais rápida, ativa e luminosa ela é.

Ao entrar a energia do Céu Anterior, a energia do Céu Posterior também será transformada.  Como a Consciência já estava unida ao Sopro, entrando a nova Consciência do Céu Anterior e o Sopro do Céu Anterior, haverá uma transformação física.  Essa transformação física acontece por três vezes e chama-se As Três Rodas de Moinho.


A Roda de Moinho é aquela que leva a água para lugares mais altos, para auxiliar na distribuição de água, na irrigação, etc.  Na linguagem da Alquimia, as Rodas de Moinho significam o despertar da circulação de energias vitais.  Água significa energia vital; Fogo simboliza a Consciência; as Rodas de Moinho levam a água de baixo para cima e de  cima para baixo, sempre rodando, rodando, significando a energia despertando em nosso corpo e começando a circular com uma intensidade bem maior.

Esse despertar é diferente daquele da Kundalini, bem conhecido no ocidente.  O despertar da Kundalini é linear, vai debaixo para cima, despertando a energia Inferior do corpo e fazendo-a subir até a cabeça.

A Roda de Moinho é cíclica, não tem princípio nem fim, e por isso, chama-se Roda.  Não é linear.

No momento em que a energia do Sopro do Céu Anterior entra em nosso corpo, essa energia começa a se movimentar em movimentos circulares: são milhares de Rodas que acontecem dentro do corpo girando simultaneamente.  Como a Consciência não está separada e estamos em estado de  êxtase, de olhos fechados, sentados em profunda meditação, nessa hora, nossa Consciência está viajando por todas as partes do nosso corpo junto com essas Rodas de Moinho.

As Rodas de Moinho vão desbloqueando todos os canais de energia que existem em nosso corpo.  Existem cerca de 36 mil canais de energia incluindo grandes ou pequenos.  Na acupuntura, usamos doze grandes canais e oito ainda maiores.  Todos esses 36 mil canais são purificados, rodando, rodando, rodando...  Às vezes, uma rodada dura de vinte a trinta minutos e a cada vez que sentarmos para meditar, as Rodas vão aparecer.  É um fenômeno estrondoso e são poucas as pessoas que conseguem atingir esse nível.


Existem  três tipos de Rodas de Moinho:

O primeiro tipo de Roda de Moinho é mais energético, mais físico.  Algo meio líquido, meio vaporoso, que circula dentro de nosso corpo.  A sensação dura dez, vinte, trinta minutos e ainda continua ao longo do dia.  Acontece quando entramos em êxtase  e chega o dia em que todos os canais ficam totalmente purificados, todos os centros de energia do corpo são purificados, tudo fica limpo.  Naturalmente, essa Roda de Moinho cessa, perdendo sua intensidade, nos fazendo entrar num período de imensa tranqüilidade na meditação.

Anos mais tarde, entra-se no segundo estágio.  A Roda de Moinho agora é chamada de ‘Jade Líquido’.  Jade é uma pedra preciosa normalmente  branca ou ligeiramente esverdeada.  A branca é melhor.  Nesse nível da Segunda Roda de Moinho - difícil de acontecer -, sentem-se todos os 36 mil canais do corpo preenchidos por um néctar como se  fosse um creme de leite; este é o Jade Líquido que é uma espécie de líquido branco e luminoso que circula dentro do corpo.  Toda a parte física é então purificada.  É um fenômeno poderosíssimo porque não é mais algo energético - a Roda de Jade líquido é uma espécie de líquido mesmo, circulando como um néctar dentro do corpo.  Também cessa, depois de um tempo.

Após vários outros anos, entra-se no terceiro estágio: o estágio da Roda de Luz Púrpura.  É uma luz que circula dentro e fora do corpo, uma grande luminosidade.  Depois de um tempo, termina.



Estamos falando de fenômenos do nível de mestres ascensionados.  Se você consegue colocar sua mente dentro do seu Sopro, praticando todos os dias, isso já lhe vai trazer equilíbrio e harmonia.   Se você consegue se manter por duas a três horas no estado de êxtase, sem pensamentos, sem confusão interior, naturalmente, o Sopro do Céu Anterior entrará em você e lhe trará grandes transformações quanto ao seu comportamento, sua saúde física e psíquica, seus traumas vindos das infinitas vidas passadas e desde seu nascimento serão varridos bem como os complexos e as loucuras.

Existe o conceito no Taoísmo de que, quando uma pessoa nasce para a vida, não traz nada a não ser seu Karma.  E quando vai embora, não leva nada a não ser seu Karma.  Esse Karma levado e trazido é exatamente tudo aquilo que a pessoa guarda dentro de si.

Quando entra a primeira Roda de Moinho, esse Karma interno começa a ser varrido e modificado porque a Consciência muda e a energia também muda: as doenças desaparecem, as neuroses e complexos começam a ser eliminados, o comportamento se modifica e a pessoa começa a adquirir as características de um mestre espiritual.

Quando a pessoa atinge a segunda Roda de Moinho, ela já atingiu um estágio  acima da condição normal humana, todo o organismo físico é alterado.  Na antiguidade da China, existiram diversos mestres que alcançaram esse nível. 

Havia um monge  Zen Budista que também praticava a Alquimia Taoísta - esse intercambio de práticas faz com que o Zen Budismo se diferencie do Budismo comum.  Por algum motivo, esse monge desagradou ao imperador que mandou decapitá-lo.  Ao ser cortada a cabeça do monge, aconteceu um fenômeno:  no momento em que sua cabeça rolou, o sangue que saiu era um néctar branco.  Esse néctar saiu como um esguicho, subindo ao céu e desaparecendo.  O imperador, então, percebeu que havia cometido um grande erro: matar um mestre espiritual desse nível certamente lhe traria um Karma enorme.  Isso o abalou profundamente e um tempo depois, adoeceu e morreu.

Na atualidade, existiu um importante mestre taoísta que foi o homem que criou a Sociedade Taoísta na China. (Antigamente, existiam as ordens.  Modernamente, criou-se a Sociedade Taoísta que substituiu os antigos Conselhos dos Anciãos. Basicamente, nada mudou, apenas o nome).  Esse mestre foi morto durante a revolução cultural porque era considerado um desses ‘‘vermes da tradição’, e que precisava ser varrido porque era nocivo, anti-revolucionário.  Ele morreu espancado, a pauladas.  Bateram tanto nele que ele morreu.  Mas não sangrou, saiu apenas muito líquido branco, néctar branco e as pessoas se assustaram.  Esse fenômeno aconteceu ainda na década de 60.

Essas pessoas que chegaram a este nível - chamado de ‘sangue modificado’ -, já atingiram a segunda Roda de Moinho.  O corpo físico ainda morre deixando esse néctar porque a pessoa ainda não atingiu o terceiro nível.

O terceiro nível é a Roda de Moinho da Luz.  A partir daí se cria o chamado ‘corpo de luz’.  Alguns mestres da antigüidade, confirmados pelos textos clássicos, conseguiram se transforma a tal ponto que o corpo todo transmutava.  Na hora da ascensão, o corpo físico não apenas  morre e o espírito ascensiona.  Não.  O corpo físico todo se transforma em luz e desaparece no espaço.  Isso existe tanto no Taoísmo como em algumas facções do Budismo.  O Corpo de luz é a transformação de mais alto nível: a terceira Roda de Moinho.



Voltando ao princípio: tudo isso está dentro do ‘abraçar a Unidade’.  A Unidade pode ser abraçada no nível do Sopro e do Espírito unidos.  Pode ser abraçado no nível do corpo físico.  Pode ser abraçada por um corpo que se  tornou um Corpo de luz.  Parece uma coisa  fantasiosa, ficciosa, mas é assim que contam todos os textos clássicos.  Os mestres espirituais também falam sobre isso e são pessoas sérias.  Não ficam, porém, proclamando aos quatro ventos - porque senão, as pessoas correriam para realizar os fenômenos e não seria por abraçar a Unidade.


Abraçando a Unidade, pode-se chegar a altos níveis de transformação.  Qualquer um pode chegar, não existem predestinados.  Existem gurus espirituais que nasceram com um dom de transformar metal em ouro, mas que não possuem métodos para passar a seus discípulos.

A Alquimia propõe que, através de uma tradição hermética - uma vez a pessoa realmente recebendo a Iniciação e recebendo a chave da Iniciação (que é a transmissão oral) -, essa pessoa é capaz de receber uma técnica que só precisa da dedicação pessoal e da realização pessoal para se poder conseguir essa transformação e alcançar a sagração do homem por seu próprio esforço.

Esta é a grande diferença entre o conceito da Alquimia e o conceito daqueles ‘predestinados’ em relação à transformação.


Mestre Maa sempre diz que a realização da Alquimia serve para todas as pessoas.  Pode ser uma pessoa com intelecto alto ou com intelecto baixo.  As pessoas com intelecto alto mas com a Consciência baixa - somos nós mesmos -, são exatamente aquelas com maior dificuldade.  Quem tem a Consciência alta é aquela pessoa que já nasceu com a quietude interior.  Também aquela pessoa com o intelecto baixo e que, por isso, não ocupa a cabeça com muitas coisas, acaba conseguindo entrar na quietude interior sem muito esforço...   Nós - os medianos -, somos pessoas cheias de conceitos na cabeça, cheias de informações; não somos exatamente ignorantes mas também não somos conscientes - portanto, somos aqueles que têm as piores condições de se realizar.


Mestre Maa também diz que para podermos fundir as cinco energias em uma - juntando Metal com Madeira, Fogo com Água - é preciso ter essas cinco forças psíquicas dentro de nós, essas cinco energias, de forma bem preservada, pouco lesada. 

Esses cinco elementos são lesados por sete questões:

-          A euforia e a ira são prejudiciais ao elemento Madeira, à força do elemento Madeira que existe dentro de nós.

-          O susto e o terror prejudicam nosso elemento Metal.
-          A angústia e a depressão lesam o elemento Fogo.
-          A dispersão, a falta de concentração, prejudica o elemento Terra.
-          A perversão e a volúpia prejudicam as essências vitais, o elemento Água.

Uma pessoa que fique todo o tempo irada, prejudica sua alma; se assustando ou vivendo em terror, prejudica seu corpo, seu elemento Metal.  Uma pessoa que fica todo o tempo sob depressão e angústia, vai prejudicar seu coração, seu elemento Fogo.  Uma pessoa que está todo o tempo se desgastando na volúpia, ou seja, com excesso de prazeres sensoriais ligados à comida, ao sexo, enfim, tudo em excesso, está prejudicando suas essenciais vitais, seu elemento Água.  A dispersão vai fazendo com que nossa força de vontade decresça, prejudicando o elemento Terra, a vontade que está no centro.

Mestre Maa nos diz que antes de quereremos ser super-homens com Rodas de Moinho, corpos de luz, deveríamos tentar ser homens comuns e para sermos homens comuns temos que evitar esses desgastes para que as energias permaneçam equilibradas dentro de nós.


A partir do equilíbrio das cinco energias, é que conseguimos juntá-las dentro de nós para encontrarmos o Um, a unidade do ser.  É a partir da unidade do ser que conseguimos nos transformar.

Na prática cotidiana, é preciso se tomar cuidado para não se deixar cair no desequilíbrio dos cinco elementos.  Como fazer isso?  Não criando oportunidades para se aborrecer, não criando chances para ficar depressivo, arrasado.  Se não criar, não acontecerá, e, conseqüentemente, não será preciso reprimir.

Todas as iras, angústias, já são grandes vícios que trazemos da infância ou mesmo de vidas anteriores.  Vício é personalidade.  Combatendo o vício, também se reformula o estar social e os amigos através de um novo comportamento, uma nova conduta.


Por isso, Lao Tse diz:

Quem conduz a realização do corpo por abraçar a Unidade, pode tornar-se indivisível


“pode tornar-se indivisível” - indivisível significa as cinco forças numa só: Consciência do Céu Anterior e do Céu Posterior, Sopro do Céu Anterior e do Céu Posterior, como uma só coisa.  Estaremos em toda a parte e também não estaremos aprisionados em parte alguma.

A Roda de Moinho surge a partir do Sopro do Céu Anterior.

Em práticas de Chi Kun, com técnicas de respiração taoístas, concentrando em um ponto do corpo com muita intensidade, pode-se conseguir uma pequena circulação de energia - aí não se chama roda de moinho.   Essa pequena circulação é chamada de ‘Pequena Circulação do Céu’, ou Celestial.


Existe uma prática de Meditação em Concentração que não pode ser feita sem a assistência de um mestre.  Normalmente, as pessoas tendem a fazer práticas místicas sem qualquer assistência; isso é perigoso.

Na Alquimia, temos um conceito muito claro em relação a isso: o caldeirão é o seu corpo, a matéria prima é o seu Espírito e seu Sopro.  Se acontecer um acidente, o caldeirão ficará destruído, o Sopro e a Consciência se perderão e a pessoa pode adoecer.  Como se trata de uma técnica que mexe não apenas com o Sopro mas com a psiquê, essa alteração tem que ser feita de uma maneira responsável. 

Em qualquer escola que se pratique a meditação, é preciso que a pessoa seja assistida por alguém que já tenha passado pelas experiências e pode, dessa maneira, auxiliar seus discípulos.  A medicina comum não trata desses tipos de fenômenos, que não são considerados ‘normais’ e sim, paranormais.


A tradição da Alquimia deixa claro que cada mestre só pode passar e iniciar uma técnica para outros se ele próprio já tiver passado e recebido os ensinamentos de um mestre.  E seu mestre teria recebido de um mestre anterior, que teria recebido de outro mestre ainda mais anterior...., dessa maneira, forma-se o que se chama de Tradição.

Na Tradição Taoísta, o primeiro elo da corrente é Lao Tse.  Lao Tse também teve o seu mestre espiritual, naturalmente.  Toas as principais escolas tradicionais e autenticas taoístas vêm de Lao Tse.  A partir dele foram tecidas duas grandes ramificações que deram lugar a dezenas de outras escolas.  Em qualquer uma delas, sempre veremos que o mestre do mestre do mestre do mestre, percorrem um longo tempo na história até chegar a Lao Tse.

Cada fundador de Ordem também é considerado mestre nessa grande corrente.  Na China, existem dezenas de ordens taoístas e dentro dessas, cinco aparecem como as mais importantes.  Uma ordem só acontece a partir de um mestre ascensionado, entretanto, o mestre pode fundar uma Ordem se já alcançou esse nível ainda em vida.  Esse é o caso da Ordem Ortodoxa Unitária, que é a Ordem que nós seguimos.  Nosso Mestre Inicial é chamado de Mestre Celestial.



Voltando ao assunto da Meditação em Concentração, existem pessoas que concentram a energia mais ou menos quatro dedos abaixo do umbigo.  Essa concentração se chama Tan Kin - plantio do Elixir. 

Através de uma meditação correta e intensiva, concentra-se muita energia nesse lugar.  A concentração se torna tão intensa que a energia nesse ponto se torna inquieta, como se fosse água fervida, um vapor vibrante, efervescente, subindo e descendo.  Essa energia vibrante força a saída através dos canais de evacuação e micção, e se isso acontecer, toma o nome de ‘Perda de Elixir’ ou ‘Perda da Matéria Prima’. 

Essa perda pode gerar um enfraquecimento instantâneo e a pessoa passa mal.  Para que isto não aconteça, se  usa um segredo chamado ‘Fechamento das Portas’ - as Portas Inferiores são fechadas, a energia bate mas não consegue sair.  Nessa hora, deve-se utilizar uma pequena intenção para a energia subir por detrás, através de um canal de energia chamado ‘Vaso Governador’, que passa por dentro da coluna vertebral indo até o cérebro e esse percurso é chamado de ‘Pérola de Argila’. 

Depois disso, a energia desce novamente e existe outra técnica para que ela não se esvaia pelas narinas ou pela boca.  Essa energia desce pela frente, pela parede interna da cavidade torácica que é um canal chamado ‘Vaso de Concepção’, e volta ao ponto inicial. 

Diariamente, essa energia circula dentro do corpo, naturalmente as portas se fecham já sem esforço.  A energia continua circulando e a Consciência passa a atuar no centro e percebe o giro da energia tal qual uma roda.  Esse ciclo de energia chama-se ‘Pequeno Círculo do Céu’ ou celeste. 

Normalmente, a energia circula através desses dois canais - vaso governador e vaso de concepção - de baixo para cima.  A energia do vaso conceptivo sobe até a raiz da língua numa intensa energia de baixo para cima, tornando, portanto, bastante difícil essa inversão de corrente.  Para tanto, pé preciso se fazer muita força para inverter a força da corrente que era ascendente para descendente.  Com a força da inversão, a energia passa a correr em círculos e quando isso acontece, entra-se no primeiro estágio desse tipo de Alquimia, chamado ‘Círculo do Céu’.


O ‘Círculo do Céu’ não é a Roda de Moinho que é dez mil vezes mais poderosa do que essa prática. 

No Circulo do Céu existem dois ramais de energias despertados. 

Na Roda de Moinho, todos os canais do corpo são despertados de uma só vez: vaso de concepção, vaso governador, vaso despertador, vaso da cintura, todos os meridianos, todos os sub-meridianos, canais colaterais, flutuantes, grandes, pequenos, invisíveis, etc.  São todos os 36 mil canais despertados de uma vez e isso traz uma enorme circulação de energia através de todo o corpo.   Nessa hora, a pessoa tem que estar  extremamente firme e concentrada em meditação de alto nível. 

Na meditação comum, pode-se alcançar o estágio da Primeira Roda.

Quem consegue o efeito da Circulação do Céu chega a um ponto de transcendência da necessidade sexual e de outros estímulos físicos.  No momento em que as portas são fechadas para a circulação interior de energia, também as portas ficam fechadas para o sexo.

A prática do Círculo do Céu pertence à Alquimia Inferior.  A Roda de Moinho aparece tanto na Alquimia Mediana como na Alquimia Superior. 


Na Alquimia Inferior, o centro de concentração é chamado de ‘Plantio do Elixir'.  Após circular por bastante tempo dentro do corpo, essa energia que continua concentrando a Consciência e a energia, instala-se no baixo abdômen onde cria uma espécie de bolota.  Essa bolota é a concentração e união da Consciência com a Energia - esse é o Elixir que foi plantado naquele lugar.  Nesse momento, se alcança o que se chama de ‘Feto Sagrado’.  Posteriormente, esse Feto Sagrado deverá ser transferido para outros centros para ser processado e reprocessado em outros níveis.

A meditação praticada por nós não concentra em nenhum centro e, por não concentrar em nenhum centro, é de nível Superior.  A concentração em um centro pode significar apego ao nível físico.  O nível físico fica no nível do Chi da energia e da Consciência mais baixas.  Não concentrando em nenhuma parte do corpo, faz com que a Consciência fique mais elevada e a Energia mais sutil.  Por outro lado, ao provocar a Roda de Moinho, a Energia e a Consciência que foram elevadas e sutilizadas, ficam igualmente distribuídas dentro do corpo e, por não se concentrarem em nenhum centro, também não formam o Elixir.

Na Alquimia Superior, especificamente, a meditação é praticada muito parecida com a que nós fazemos, apenas que, quando toda a energia tiver alcançado o estágio de fazer rodar os 36 mil canais, ela irá permanecer em algum lugar de uma dimensão sutil - e não no nível físico.  E não se tem domínio sobre isso.  Esse lugar é chamado de Portão Negro.


O Portão Negro não está dentro do corpo nem fóra do corpo; não está no mundo da psique nem no mundo físico;  não é visível nem é invisível; não pode ser sentido mas pode ser sentido.  O Porão Negro está além da linguagem, numa condição além da linguagem.  Como conseguir isso?  Apenas o Mestre conhece o Portão Negro e pode dizer onde ele está.  Somente o Mestre que já se realizou poderia descobrir e   revelar onde se encontra o Portão Negro.



Dentro do Taoísmo, existe uma única filosofia que dirige diversos níveis de conhecimento, diversos níveis de prática. 

Existem as práticas chamadas de Artes, que são: o I Ching, a Geomancia, a Quiromancia, a Astrologia, o Tai Chi, etc.

Subindo de nível, estas práticas são chamadas de Leis e são práticas de Magia, Rituais, Mentalizações, Concentrações, Trabalhos com as forças cósmicas e arquetípicas, Trabalhos com a força sagrada celestial através do Mantra, do Canto, das Invocações.

Subindo mais ainda de nível, existe a transmutação, a prática do Tao.  A prática do Tao é a  pura transformação, a própria Alquimia.



Dentro da Alquimia existem três categorias:  Celestial, Humana e Terrestre.

A categoria Celestial praticamente não existe mais nos dias de hoje e nem posso explicar como ela funciona porque não sei muito bem sobre esse assunto.

A categoria Humana é a Alquimia baseada no homem, é a Alquimia interior.

A categoria Terrestre é a Alquimia que trabalha com a matéria que existe fóra do nosso corpo.



Dentro dessas três Alquimias, ainda existem três níveis:  Alquimia Superior, Alquimia Mediana e Alquimia Inferior.

A Alquimia Superior, não trabalha com nenhuma forma imaginável ou inimaginável.

A Alquimia Inferior sempre trabalha com alguma forma imaginável.

A Alquimia Mediana sempre trabalha entre o imaginável e o inimaginável.  Trabalha com a forma e a não-forma, entre a forma e a não-forma ao mesmo tempo.

Quanto mais alto o nível da Alquimia, mais simples, sutil e fácil é a técnica porém mais difícil de se conseguir resultados.  Descendo de nível, a Alquimia é mais complicada, mais detalhada porém mais fácil de se conseguir resultados.

Com relação aos resultados, quem pratica a Alquimia Superior, uma vez alcançando os resultados, atinge o mais alto grau de Resplandecência.  Quem alcança os resultados da Alquimia Inferior ainda tem que passar pela Alquimia Mediana e depois ascender para a Superior, senão fica limitado a uma resplandecência de nível mais baixo.


No Taoísmo existe, portanto, todo esse volume filosófico de conhecimentos e todas essas diferentes classificações.

A roda de moinho só acontece nas Alquimias Mediana e Superior.  O Círculo do Céu só acontece na Alquimia Inferior.  No nível da Lei, muitas vezes une-se a magia com a arte.  Aquele que faz magia não associada a qualquer Alquimia, é feiticeiro.

Eu tenho um Mestre que ainda vive e que atingiu esse Círculo do Céu.  Ele pratica a Alquimia Inferior, é um exorcista muito forte, bravo, poderoso, consegue ver tudo o que está no astral, executa serviços, etc.  Ele tem essa bolota no baixo abdômen por causa da intensa energia concentrada nesse  ponto.

A maioria dos magos não tem força própria, eles invocam as forças das divindades ou de outras entidades para trabalharem: eles são apenas organizadores.  Meu mestre não é apenas um organizador, ele tem força própria para atuar com poder próprio.  Sua magia é uma magia Superior, que nós chamamos de Grande Magia.

A Grande Magia é aquela que somos capazes de obter com a força fundida, unida com a força da divindade.  É preciso ter muita força energética, muita Consciência pessoal porque o empreendimento é grande.

Meu Mestre é uma pessoa que foi bem-sucedida em juntar todas essas forças, o que é um caso raríssimo hoje em dia.  Existem muitas pessoas que dominam a magia sem a realização interior.  Às vezes, possuem a realização interior mas desprezam as práticas mágicas, optando por se conservar mais ‘puros’, apenas meditando.

Meu mestre, porém, atua em três níveis: ele domina as artes da Astrologia, do I Ching; ele domina a Magia e também a Alquimia - apenas que sua Alquimia não é das mais altas.



Retornando ao texto:
Quem respira com pureza por alcançar a suavidade,
Pode tornar-se criança


Desmembrando a frase, percebemos algumas palavras-chaves.

Respirar com pureza - alcançar a suavidade - tornar-se criança - são três coisas.  Quem respira com pureza pode alcançar a suavidade e, conseqüentemente, se tornar uma criança.

O que é respirar com pureza?  Simplesmente respirar.  Tudo o que se faz com pureza, se faz simplesmente, com transparência.

A pureza é pura.  Respirar com pureza quer dizer respirar puramente, simplesmente respirar, sem colocar pensamentos bons nem pensamentos ruins, sem colocar boa intenção ou menos ainda, má intenção.  Qualquer pensamento perverso e/ou má intenção poluem nossa mente, poluem nossa energia, nosso Sopro.  Qualquer pensamento positivo torna nosso Sopro formal mesmo que seja uma forma positiva que é a antítese do negativo.  O bom é a antítese do ruim.  Quem está apegado a uma energia boa, está apegado conscientemente ou inconscientemente à uma energia ruim.

Na prática da Alquimia ou de qualquer meditação taoísta, é preciso simplesmente se colocar a Consciência dentro do Sopro.  Consciência sem julgamento, Consciência sem intenção, Consciência sem ser nada apenas uma pura Consciência.  Isso é respirar com pureza.

Em sua vida cotidiana, o taoísta antes de ser um super homem, tem que ser um homem normal.  Um homem normal tem discernimento.  Isto não quer disse que não se pode mais julgar.  Não.  O julgamento deve ser feito como na  prática da meditação.  Naquele momento, a pessoa está parada, não fazendo nada.  Nessa hora não pode haver julgamento.  Na vida comum, é preciso se ter discernimento.

Não julgando durante o momento da meditação faz com que possamos trazer o Sopro da pureza para nós. 


Assim, Ele diz:

Quem respira com pureza por alcançar a suavidade....


Alcançar a suavidade - o que é a suavidade?  Suavidade é não-conhecimento e não-julgamento.  Reagir com suavidade significa não reagir.  A força reage; a suavidade não.  A suavidade é receptiva. 

Dentro do I Ching, a linha da suavidade é a linha Yin, a linha da receptividade.  Qual é a linha da força, do contrário da suavidade?  É a linha Yang.  Qual é o Trigrama, o Hexagrama?  A força é criativa, é imposição, é opinião determinada, objetividade.  Suavidade é receptividade, abrangência, o abraçar e o dissolver sem julgamentos, sem conceitos, sem pensamentos. 

Aquele que alcança a suavidade da Consciência é capaz de respirar com pureza, é capaz de ter uma pura respiração, é capaz de alcançar o não-julgamento; simplesmente tem a Consciência dentro do Sopro e dessa maneira pode tornar-se criança - criança recém nascida.

O bebê ainda não sabe, ainda não tem discernimento.  O bebê é suave, não só em seu corpo como também em seu comportamento.  Existem crianças mais agitadas, mas de qualquer maneira, todos os bebês são mais suaves e brandos.

Se nos compararmos com a nossa própria infância,  éramos mais suaves; hoje somos mais rígidos.  Criança, simbolicamente, é a antítese do idoso.  A criança é recém-nascida e o idoso está nas vésperas da morte.  Quanto mais vivemos, mais rígidos nos tornamos em nosso corpo, em nossos ossos, em nossa cartilagem e em nosso comportamento.

Tornar-se criança - é retornar a um estado de suavidade, de pureza, de abrangência, de potencialidade latente.  Potencialmente, todas as crianças podem ser sadias e bem educadas.  E pouco sadias e mal-educadas, posteriormente.  Todo resultado posterior parte de uma potencialidade.  É como se fosse um barro já torneado numa bacia, levado ao forno para queimar, passando a ter uma forma definida.  Antes disso, porém, era apenas barro e tinha a potencialidade de ser infinitas coisas.

Quem consegue ter uma Consciência pura dentro do Sopro puro, acaba voltando a um estado anterior de ser; consegue recuperar dentro de si uma pureza, uma ingenuidade que sempre teve, que tinha quando criança.

Quando éramos crianças, acreditávamos que muitas coisas eram possíveis, éramos mais idealistas, mais otimistas, acreditávamos nas coisas.  Hoje já não acreditamos tanto e em alguns casos, não acreditamos mais em nada.  Então, as pessoas sofrem porque hoje não conseguem fazer mais as coisas como antes, quando eram crianças puras.



Através da transformação da Alquimia, recuperam-se as potencialidades latentes.  Através da meditação intensiva, estamos o tempo todo recebendo esse Sopro, essa união.  Nos modificamos, voltamos ao nosso princípio.  Rejuvenescemos, fisicamente e psicologicamente, trazendo de volta uma série de esperanças de coisas que hoje temos uma vaga memória que acreditávamos e que não acreditamos mais, passamos a acreditar nas coisas, de novo. 

A criança acredita que o sonho possa acontecer.  O adulto, não.  O mundo em que vivemos é feito conforme a nossa Consciência.  quando não conseguimos mais sonhar, o mundo torna-se triste.  Quando voltamos a sonhar, nosso mundo se torna mais acessível, mais possível.

Por isso, os mestres, grandes alquimistas, retornam a esse estado de ser criança: são capazes de penetrar no universo do mistério, passam de uma dimensão para outra, voam, se transfiguram, se transformam tal como acontece nos contos de fada.  Para esses mestres, esses são fenômenos paranormais ou sobrenaturais que acontecem em torno da vida.  Nós, que somos adultos, entretanto, na maioria das vezes, achamos que esses conceitos são conversas de velho, mundo de misticismo e de superstição...

Toda a experiência mística pode ou não ser vivida, depende do coração de cada um.  Duas pessoas, uma com o coração rígido não consegue viver; outra, com o coração amaciado, voltará a viver.

Todas as crianças são potencialmente místicas porque, para elas, tudo é possível.  Criança fala sozinha, conversa com amigos que não se vêem.  Os mestres espirituais também falam sozinhos, conversam com amigos que não vemos.

A diferença é que as crianças normalmente têm acesso a esse mundo de mistérios - que nós chamamos de mundo do sonho, da ilusão, da fantasia, e que no mundo do misticismo, se chama mundo do mistério - mas não conseguem explicar para nós numa linguagem que nós reconhecemos.  Nossa linguagem é racional e intelectual sobre esse mundo dos mistérios.

O mestre espiritual é um velhinho que já viveu uma vida inteira e depois retornou a esse mundo infantil e redescobriu sua capacidade de abrir a porta dos mistérios.  Ele tem a possibilidade de explicar para nós esse mundo do mistério - que é o mesmo em que as crianças vivem - usando uma linguagem filosófica, com fundamentos, explicando para nossas cabeças racionais entenderem.  A partir daí são criados os ensinamentos e as explicações esotéricos e místicos.

Os mestres choram, os mestre riem.   Riem sem euforia, sentem tristeza sem sofrimento, sem desespero.  Simplesmente refletem a realidade.  Quando se chora com desespero e se ri com euforia, algo está errado.  Mas é assim que vivemos.  É preciso voltar a viver cada gesto, naturalmente, como cada gesto deve ser.  Esse é o chamado Homem Autêntico, o homem que vive o estado real, verdadeiro.

Transcender a emoção, o sentimento, o pensamento, não significa perder a emoção, o sentimento, o pensamento.  Transcender o domínio da mente não significa perder a capacidade de pensar, a capacidade intelectual.  Muito pelo contrário.  Passa-se a ter uma maior lucidez interior para exercer e utilizar esses recursos naturais sem problemas.

Essa criança, simbolicamente falando, passa a habitar o coração do homem adulto sem que ele perca o domínio do seu mundo adulto.



Quem purifica através do conhecimento do Mistério,
Pode tornar-se imaculado.

Conhecimento do mistério  - é exatamente aquela porta que se abre mostrando o mundo dos mistérios.  É a entrada do Sopro do Céu Anterior.  O Sopro do Mistério é o Sopro do Céu Anterior.

Quem possui o conhecimento do Mistério pode se purificar através de uma Consciência que já existe em toda a parte.  Pode se purificar através do Sopro que é criador de todos os outros Sopros.  A pessoa se torna purificada, imaculada.  Para isso, é preciso se alcançar o Portão Negro.



Resumindo, neste pequeno trecho inicial, Lao Tse fala da prática da meditação taoísta como uma prática de Alquimia - nesse caso entende-se a Alquimia como processo de transmutação.

Essa Alquimia é realizada através da fusão da Consciência pura com o Sopro genuíno do indivíduo trazendo para si o Sopro do Céu Anterior do macrocosmo e a Consciência pura do macrocosmo dentro de nós.  Essa grande força injetada dentro de nós nos limpa psiquicamente e fisicamente, varrendo todos os traumas, todos os complexos, loucuras e distúrbios.  Varrendo e purificando aos poucos... até que tudo fique totalmente purificado.  Quando isto acontece, nós conseguimos retornar a viver o estado genuíno de ser que é a verdadeira maneira de ser.  De sorrir na hora de sorrir, de chorar na hora de chorar; de trabalhar simplesmente trabalhando; de fazer as coisas simplesmente fazendo, de agir com naturalidade, de descansar na hora de descansar, realizar na hora de realizar.

A grande diferença entre a Alquimia e as outras práticas espirituais, é que a Alquimia acredita que através de uma técnica correta de fusão da Consciência com o Sopro, pode-se gerar um efeito transformador que faz com que nós, naturalmente, nos modifiquemos.  E não através da doutrinação disciplinada.  Quem medita vai ter, naturalmente, um comportamento diferente - não através de uma discriminação ou de uma doutrinação, mas através de uma modificação natural.

No Taoísmo, não se trabalha a mudança do comportamento no comportamento.  Trabalha-se a mudança do comportamento fóra do comportamento.  Para tanto, é preciso meditar diariamente, purificar a Consciência, ficar fóra da forma da linguagem do comportamento para poder conduzir a linguagem e a forma do comportamento de uma maneira adequada.  Para se carregar uma mala, tem que se estar fóra dela.

Trabalhando fóra da situação, obtém-se um resultado natural.


Aula de 09 de agosto de 1994

O restante da interpretação do Capítulo 10 se encontra na transcrição da aula seguinte, a do dia 16 de agosto.


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Aula de 16 de agosto:
(síntese da aula anterior e continuação do Capítulo 10)


Capítulo 10


Quem conduz a realização do corpo por abraçar a Unidade,
Pode tornar-se indivisível;
Quem respira com pureza por alcançar a suavidade,
Pode tornar-se criança;
Quem purifica através do conhecimento do Mistério,
Pode tornar-se imaculado.

Ame o povo e governe o reino através do “não-conhecimento”;
Ilumine e clareia os quatro cantos através da “não-ação”;
Abra e feche a porta do Céu através da “ação feminina”.

O que gera e cria,
Gera mas sem se apossar
Age sem querer para si
Cultiva mas sem dominar
Chama-se Misteriosa Virtude.



No Taoísmo, considera-se que existam cinco forças dentro do universo, ou cinco elementos:  Fogo, Água, Madeira, Metal e Terra.  Estes elementos representam os cinco tipos de energia, os cinco tipos de consciência, as cinco partes do ser.

O elemento Fogo corresponde ao Espírito da pessoa.

A Água corresponde às Essências Vitais, aos fluidos, hormônios, os componentes do sangue, todas as matérias orgânicas e vitais que existem dentro de nós.

A Madeira corresponde à Alma. 

A Alma é a Consciência com personalidade; o Espírito é a Consciência sem personalidade.

O Metal corresponde ao Corpo.

A Terra corresponde à Vontade.

Na prática da Alquimia Taoísta, para uma pessoa alcançar a unidade do ser, tem que unir o corpo à alma, tem que juntar o espírito à essência e colocar esses dois eixos - vertical e horizontal - dentro de um único elemento, que é o elemento terra, elemento do centro, da vontade.

A vontade, portanto, é a capacidade de juntar o corpo à alma, o espírito ao físico, fazendo a pessoa abraçar a Unidade.

Também o Fogo pode ser entendido como a Consciência; a água como o Sopro, a energia vital.

A meditação acontece através da fusão da Consciência com a energia do centro, da Terra, através da Vontade numa concentração exata.  Essa concentração trabalha com duas Energias e duas Consciências  ao mesmo tempo: é necessário que a Consciência do Céu Posterior se junte ao Sopro do Céu Posterior; é necessário que a Consciência do Céu Anterior se junto ao Sopro do Céu Anterior.

O que é a Consciência do Céu Posterior?  O Céu Posterior são as coisas manifestadas. Uma árvore natural na floresta tem uma madeira do Céu Anterior, genuína.  A cadeira é uma madeira já em estado do Céu Posterior porque foi modificada, polida.  A Consciência do Céu Posterior é uma consciência que tem forma.  A consciência pura é apenas uma Consciência, pertencendo ao Céu Anterior.  A Consciência do Céu Posterior tem um julgamento, uma intenção, um valor: assim não é uma consciência pura.


Mestre Maa nos diz que para podermos fundir as cinco energias em uma - juntando o Metal com Madeira, Fogo com Água - é preciso ter essas cinco forças psíquicas dentro de nós de forma bem preservada, pouco lesada.

A euforia e a ira são prejudiciais ao elemento madeira.
O susto e o terror prejudicam nosso elemento metal.
A angústia e a depressão lesam o elemento fogo.
A dispersão, a falta de concentração, prejudicam o elemento terra.
A perversão e a volúpia prejudicam as essenciais vitais, o elemento água.

A partir do equilíbrio das cinco energias, é que conseguimos juntá-las dentro de nós para encontrar o Um, a Unidade do Ser.  E é a partir da Unidade do Ser que conseguimos nos transformar.


Na prática da meditação, o elemento Terra corresponde ao ponto de concentração ou ponto de convergência.  Numa linguagem simbólica, veremos que é da Terra que se retira a Madeira, é da Terra que se extrai o Metal, a Terra sustenta o Fogo e a Terra recolhe a Água.  Todos os elementos convergem em direção ao elemento Terra.


Nas escolas orientais, existem infinitas práticas de meditação porém basicamente, essas técnicas se resumem em dois fundamentos: a concentração e a contemplação.

A concentração é uma atitude ativa da Consciência e a contemplação é uma atitude passiva da Consciência.  O ponto da convergência é o ponto da contemplação ou o ponto da concentração.

Na meditação taoísta trabalha-se simultaneamente com a concentração e a contemplação: ao mesmo tempo que se contempla, se entra dentro do seu próprio ponto de concentração.  É preciso concentrar num ponto por fóra como também entrar dentro desse ponto e se tornar esse ponto.  Nesse momento, estaremos no ponto da concentração e estaremos no ponto da contemplação.  Somos a força que concentra ao mesmo tempo que somos o centro que contempla tudo o que gira em torno de nós.

Quando colocamos a Consciência dentro do ar que respiramos, esse ar é o ponto de concentração, estamos observando, temos nossas consciência fóra do aparelho respiratório e observamos o ar que entra e sai.  O ar que entra e sai é o ponto de concentração.

Quanto também entramos dentro desse ar, atingimos o estágio de nos tornar a própria contemplação.  É entrando na própria concentração que podemos contemplar e concentrar ao mesmo tempo.  Nessa hora, conseguimos ter as duas consciências: a Consciência Yang, que é a concentração, o ativo; e a Consciência Yin, que é a contemplação, o passivo.  A Consciência atinge o estado do Tai Chi, o estado do Uno. 

A Fixação é como um estado de êxtase quando não mais sentimos nosso corpo, não mais sentimos nossa respiração, não mais existem pensamentos ativos, apenas uma consciência fundida dentro de uma energia que não tem forma.  É um estado de caos, onde não há diferenciação.


Essas questões são abordadas no texto de Lao Tse, quando Ele diz:

Quem conduz a realização do corpo por abraçar a Unidade,
Pode tornar-se indivisível

Abraçar a Unidade - é a  colocação da Consciência do Céu Anterior e do Céu Posterior no mesmo ponto e a colocação do Sopro do Céu Anterior e do Céu Posterior no mesmo ponto; a colocação da Consciência dentro do Sopro de uma vez: é a entrada nesse estado ‘indivisível’.



Quem respira com pureza por alcançar a suavidade,
Pode tornar-se criança

Desmembrando-se a frase, percebemos palavras-chave: respirar com pureza - alcançar a suavidade - tornar-se criança

O que é respirar com pureza?  É simplesmente respirar.  Tudo o que se faz com pureza, se faz simplesmente, com transparência.  A pureza é pura.

Alcançar a suavidade - O que é suavidade?  Suavidade é não-conhecimento é não-julgamento.  Reagir com suavidade significa não reagir.  A força reage, a suavidade não.  A suavidade é receptiva.  Dentro do I Ching, a linha da suavidade é a linha Yin, a linha da receptividade.  A força é criativa, é opinião determinada, objetividade.  Suavidade é receptividade, abrangência, o abraçar e o dissolver sem julgamentos, sem conceitos, sem pensamentos.  Aquele que alcança a suavidade da consciência é capaz de respirar com pureza, é capaz de alcançar o não-julgamento, simplesmente ter a Consciência dentro do Sopro e dessa maneira, pode tornar-se criança.

Tornar-se criança - é retornar a um estado de suavidade, de pureza, de abrangência, de potencialidade latente.  É um estado anterior de ser.

Os grandes mestres - grandes alquimistas - retornam a esse estado de ser criança: são capazes de penetrar no universo dos mistérios, passam de uma dimensão para outra, voam, se transfiguram, se transformam tal como acontece nos contos de fadas.  O mestre espiritual é um velhinho que já viveu uma vida inteira e depois retorna a esse mundo infantil e redescobre sua capacidade de abrir a porta dos mistérios.  Ele tem a possibilidade de explicar para nós o mundo do mistério - que é o mesmo em que as crianças vivem.


Quem purifica através do conhecimento do Mistério,
Pode tornar-se imaculado


É a porta que se abre mostrando o mundo dos mistérios. É o Sopro Uno do Céu Anterior.  É a Energia Única anterior à criação do universo.  Existe uma força latente que ‘criou’ o universo, mesmo depois de o universo ter sido ‘criado’, essa força permaneceu existindo e co-existindo com a força do universo já criado - que nós chamamos de Sopro Uno do Céu Anterior.

Essa energia do Sopro do Mistério é uma coisa misteriosa, uma grande carga de energia que entra dentro de nós quando estamos em profunda Fixação na meditação, trazendo as Rodas de Moinho que vão fazendo uma revolução, circulando e limpando todos os 36 mil canais existentes em nosso corpo e nos purificando totalmente.  É uma escala de despertar muito mais potente do que a força da Kundalini.  A força da Kundalini é linear.  O Sopro do Mistério ou Sopro Uno do Céu Anterior, é uma força  esférica que desperta todos os canais de uma só vez, como se fosse uma bomba atômica que estoura dentro de nós.  Depois dessa explosão, essa força se retrai, é guardada e concentrada - o que chamamos de Elixir da Imortalidade.  Após um longo tempo de trabalho, esse Elixir se transforma no que chamamos de Feto Sagrado, na Alquimia Taoísta.

Quando o Feto Sagrado estiver pronto, o Espírito da pessoa deixa de ser o  governante de seu corpo e entra dentro do Feto Sagrado para ser governante desse Corpo Sagrado.  Então, a pessoa se transforma em um ser dentro de um corpo imortal que mora dentro de um corpo mortal.  O Corpo Solar, quando estiver totalmente amadurecido, passa a ser chamado de Espírito Solar.  Esse Espírito Solar tem o poder de separar-se do corpo físico.  A pessoa - veículo feito de Sopro do Céu Anterior com Consciência do Céu Anterior - tem o poder de criar matéria do Céu Posterior e a atividade mental do Céu Posterior também para escrever, pensar, materializar.  Cria-se, então, a potencialidade de multiplicação espiritual e física.

No desenho ilustrado a capa do livro O Segredo da Flor de Ouro, aparece um homem sentado e de sua cabeça saem outros inúmeros homens significando a multiplicação e a materialização do Corpo Solar.


Chuang Tzu nos conta uma história sobre Lao Tse e um dos seus discípulos que era bastante curioso e visitava vários outros mestres sempre falando muito bem de seu próprio mestre - Lao Tse - e sempre convidando os outros gurus a conhecê-lo.

Um dia, um guru foi conhecer Lao Tse e disse: Eu consigo não apenas ver a pessoa mas como também sua alma.

Na verdade, este guru considerou que a alma de Lao Tse não tinha qualquer brilho.  E foi-se embora.

Lao Tse chamou-o novamente à sua presença.  Pela segunda vez, o guru viu o mestre, só que dessa vez pareceu-lhe estar vendo outra pessoa mas mesmo assim, considerou que Lao Tse não tinha brilho algum.  E foi embora.

E Lao Tse voltou a convidar o guru para vir vê-lo uma terceira vez.  O guru olhou para Lao Tse, ficou desesperado e saiu correndo porque dessa vez, ele não havia conseguido enxergar a alma do mestre.  E pensou: Esse homem não tem alma!

Lao Tse então explicou que o Homem Sagrado não tem alma, porém pode transfigurar-se em vários tipos - uma hora ele pode ser o homem mau, o aspecto da maldade que existe em uma pessoa.  Outra hora, ele pode ser um velhinho, outra pessoa, pode apresentar uma expressão de compaixão.... E em outro momento, ele pode desaparecer.  Porque ele não tem as múltiplas faces, ele pode manifestar todas as faces, todas as imagens.



Ame o povo e governe o reino através do “não-conhecimento”


Na linguagem simbólica, o ‘reino’ é o corpo.  O ‘povo’ são todas as partes que compõem o corpo: cada célula, cada partícula do corpo físico.  Quem ama o povo e  governa o reino? O rei.  O rei é a Consciência.  Se diz então aqui que a consciência da pessoa deve amar cada parte do seu corpo  - ame o povo - e de governar seu ser - governe seu reino - com integridade através do não-conhecimento.

Não-conhecimento é a Consciência Pura.  O conhecimento é a limitação da consciência.  A diferença entre consciência e conhecimento é que conhecimento é uma consciência direcionada ou parcial.  A Consciência é uma compreensão total das  coisas.


Ilumine e clareia os quatro cantos através da “não-ação”


Iluminar e clarear significam o despertar da Consciência.  Tudo se torna claro, iluminado.  É preciso que se entenda que Iluminação não é bem a luminosidade, quando tudo fica iluminado, não é iluminação, é visão.  A Iluminação é algo totalmente fóra dos fenômenos sensoriais.  Iluminação é o clareamento da Consciência.

Os quatro cantos - a frente significa o futuro; atrás, o passado; esquerda e direita são os lados Yin e Yang das coisas.  A esquerda é Yang e a direita é Yin.  Na verdade, se o lado esquerdo for Yin ou Yang e o direito Yang ou Yin, está se falando da mesma coisa: um fala da essência  e outro fala da manifestação.  um fala de uma parte mais abrangente e outro fala do núcleo.

Não-ação - através do estado de não-ação, que é o estado da quietude.  Não-ação significa ação não intencional.  Não-ação é deixar as coisas acontecerem, simplesmente.


Abra e feche a porta do Céu através da “ação feminina”


A porta do Céu  - pode ser entendida como o canal que liga o homem ao universo.  É o canal que leva a pessoa para uma Consciência maior e ilimitada.  Na simbologia do I Ching, existe a trilogia do Céu, da Terra e do Homem.  O céu é a antítese da terra.  A terra é finita e o céu é infinito.  Pode-se medir o tamanho da terra mas é impossível se medir o tamanho do espaço.  O Portão do Céu se encontra dentro do homem e é uma abertura onde a consciência do homem pode se encontrar com a dimensão da infinitude.

Como se abre a Porta do Céu?  É preciso uma chave, essa chave é a Ação Feminina.  A Ação Feminina não é uma ação brusca e sim uma ação suave.  Não se pode abrir a Porta do Céu com uma ação brusca ou dura.  Essa é a chave da não-chave.  Para se abrir a porta do universo não se usa força nem chave nem conhecimento, mas sim o coração, através da Ação Feminina.



No último trecho, Lao Tse diz:

O que gera e cria,
Gera mas sem se apossar
Age sem querer para si
Cultiva mas sem dominar
Chama-se Misteriosa Virtude.


A Misteriosa Virtude é algo criador e gerador.


O que gera e cria - o que é gerar e criar?  Todas as mulheres podem gerar um filho mas nem todas criam seus filhos.  Gerar é o princípio e criar é a continuidade.  Todo o princípio tem que ter uma continuidade.

Quando o Tao, como o Absoluto, gerou o universo - no momento em que o universo foi gerado - esse universo passou a receber a assistência do próprio Tao, continuamente, através da criação.  Criação é a continuação da geração.  Gerar e criar.


Gera mas sem se apossar - O Absoluto  gerou todas as coisas e em seguida, criou todas as coisas.  E, apesar de gerá-las e criá-las, não possui as coisas, não se apossa das coisas.

O Tao cria mas não se apossa: ele apenas auxilia. 

Para o homem que deseja a vida, o Tao dá a vida.  Para o homem que deseja a morte, o Tao lhe oferece a morte - assim nos diz Mestre Maa.

Age sem querer para si - O Tao faz as coisas mas não as quer para si.  O Tao simplesmente faz as coisas.  Gera e cria mas não se apossa e por isso o Céu e Aterra podem seguir seus cursos naturais.

O Tao não pertence ao Taoísmo.  O Tao não pertence aos Taoístas.  O Taoísmo e os Taoístas são aqueles que buscam o Tao.  Também outra pessoa que não seja taoísta pode estar perfeitamente buscando o Tao, sem saber disso.


Cultiva mas sem dominar - O Tao dá a vida, mas não domina a vida.  O bonzai, por exemplo, é tipicamente anti-taoísta por causa da interferência que o bonzai permite na naturalidade do andamento da Vida.


Misteriosa Virtude - é a virtude de se deixar as coisas agirem naturalmente.


Mestre Maa nos diz que o homem que instaura o Tao em si, deve aprender a não-forma, o não-nome e o não-sentido do Tao para criar a não-forma, o não-sentido e o não-nome.  Dessa maneira, esse homem pode se tornar o próprio Tao que pode criar todas as coisas sem possuí-las, sem dominá-las.  Isso se chama Misteriosa Virtude.  A Misteriosa Virtude é uma virtude invisível.

Por isso, Lao Tse fala inúmeras vezes que o Homem Sagrado beneficia a  humanidade sem que a humanidade perceba.


Aula de 16 de agosto de 1994

Esta foi a segunda parte do Capítulo 10, que teve seu início de interpretação no dia 09 de agosto.



TAO TE CHING

O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE

Lao Tse, o Mestre do Tao

Tradução e Interpretação do Capítulo 10
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG

Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em 09 e 16 de agosto de 1994

Transcrição e Síntese de Janine Milward


A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
 e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje  publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil

Nesta mesma Editora, encontra-se 
a realização da publicação das interpretações de Wu Jyh Cherng
 acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching